segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Praças em movimento


Como um pic-nic com vizinhos pode tornar a vida nas cidades melhor


As praças sempre foram locais de convivência e reunião de pessoas, porém ao longo do tempo foram perdendo espaço em grandes cidades como São Paulo e se tornando abandonadas, mal freqüentadas e esquecidas por grande parte da sociedade e do governo.

Triste com a situação da praça perto de sua casa, Alice pediu no seu 4º aniversário que a mãe lhe desse um parquinho novo. Comovida com o pedido da filha, Carolina juntou forças, reuniu parceiros e reformou a pracinha, trazendo novos brinquedos e uma cara nova ao local. A prefeitura também ajudou, refazendo a calçada que estava danificada.

Inspirados por isso, moradores da região (Alto de Pinheiros, Lapa, Sumarezinho, Vila Romana e Vila Anglo) resolveram se unir e movimentar as praças, fazendo pic-nics todo último domingo do mês. Foi assim que surgiu em 2008 o Movimento Boa Praça, com pessoas que procuram trazer de volta à praça aquela conotação de vizinhança e convivência.

O último evento do grupo foi na Praça Amadeu Decome (Rua Cerro Corá – Alto da Lapa) e contou com diversão para as crianças, apresentações artísticas, lanche saudável e ainda um posto de atendimento que estava medindo a pressão arterial, calculando índice de massa corpórea e vendo os níveis de glicemia de quem se encontrava no local. Além de tudo isso, ainda houve orientações sobre nutrição, amamentação, fonoaudiologia e muito mais.

O movimento está crescendo e conseguindo cada vez mais apoio e mais atividades para seus domingos de convivência. Todos estão convidados aos eventos (é só ficar ligado nos convites que estão no blog) e a iniciativa também pode ser seguida por quem quiser em sua região. Basta um pequeno passo como um encontro de vizinhos para que o grande problema de convivência nas cidades melhore.

Assista a reportagem sobre o Movimento no SPTV. Outras reportagens e publicações estão no blog.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

I will survive


As baladas GLS de São Paulo são um exemplo de respeito às diferenças que tamanha metrópole agrega. Ali, dançam tranquilamente gays, lésbicas, transexuais e heterossexuais, sem nenhuma distinção. Em uma cidade onde muitas são as ocorrências devido à homofobia, tal lugar merece destaque.

Michele Alves* é heterossexual, mas costuma freqüentar as baladas GLS: “Além de o som ser melhor, tendo os melhores Djs, aqui é muito mais tranqüilo e o pessoal é bem mais comportado”, diz.

E é nesse ambiente que você percebe as mudanças que envolvem os gays. Antes marginalizados, hoje, com raras exceções, estão incluídos de maneira igualitária na sociedade, ocupando papel de destaque na cidade de São Paulo. Prova disso é a Parada Gay que nesse ano atraiu cerca de 3 milhões de pessoas na avenida Paulista. Para Michele Alves os gays são aceitos, mas não de maneira completa; “Eu acho que tem gente que aceita somente por aceitar, mas não os compreendem. Os gays são pessoas sinceras consigo mesmas, eles têm coragem de assumir o que sentem”, declara.

Em meio às luzes da boate, encontramos Jeferson Pires*. Quem o vê dançando não sabe que há pouco tempo atrás Jeferson não admitia sua homossexualidade. “Eu desde criança tinha uma curiosidade de saber como era ficar com outros meninos. Só que todos me ensinaram que eu tinha que ficar com meninas, porque este era o certo, e eu acreditava nisso e acabava ficando com elas”, diz.

Tudo mudou na vida de Jeferson quando ele conheceu Pedro. Logo eles se tornaram amigos: “Pedro tinha curiosidade também e nós começamos a conversar sobre o assunto. Um dia eu criei coragem e descobri que era o que eu gostava de verdade”.

Quanto à família, ele no início encontrou problemas com sua mãe que não aceitava suas novas amizades. “Ela falou que ia me expulsar de casa, mas depois ela foi percebendo, foi vendo que não tinha nada a ver, até acabar aceitando. Ela não sabe da minha boca, mas ela desconfia do que acontece e aceita”, diz Jeferson.

Segundo Maria, tia de Jéferson, ele tinha o gênio muito forte, chegando a ser rude com as pessoas. Quando ele se assumiu para uma parte da família, ele mudou o comportamento ficando mais amável: “Percebemos que era melhor pra ele”, admitiu. Jéferson trabalha durante toda a semana e nos finais de semana aproveita para ir até a balada com os amigos.

Hoje a grande maioria das baladas além das músicas eletrônicas, contam também com strippers e shows de travestis, cuja as apresentações se inspiram em cantoras Pop famosas, como Britney Spears, Beyoncé, e a nova queridinha do público GLS Lady Gaga. Mas se procurar bem é possível encontrar também travestis inspiradas no ícone dos anos 80, Madonna, além de uma extravagante Gretchen dublando La Conga, sucesso da cantora.

* Nomes foram trocados a pedido dos entrevistados.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Hospedaria relembra fatos de SP





O Memorial do Imigrante, também conhecido como Museu do Imigrante, funciona em um prédio que foi utilizado como Hospedaria de Imigrantes da Capital durante 91 anos. Construída entre 1886 e 1888 a hospedaria recebeu estrangeiros de 70 nacionalidades diferentes, sobretudo européias e asiáticas. Sem possuir dinheiro para se manter no Brasil, a maioria dos imigrantes ficava nela por no máximo oito dias até conseguir arrumar sua documentação e partir para as fazendas em que iriam trabalhar.

O objetivo das exposições do Museu do Imigrante é resgatar um pouco da história do país e hoje ele é um dos principais pontos turísticos e culturais da cidade de São Paulo. Além de abrigar vários documentos sobre a Hospedaria, possui salas que contam fatos da história, como a Segunda Guerra Mundial, e uma pequena fazenda de café. O visitante pode também fazer um passeio de trem que é conhecido por Maria-Fumaça.

Guilherme Engler, de 22 anos, já foi ao Museu do Imigrante para visitar uma exposição de carros antigos e interessou-se mais pelo passeio de trem. Para ele, é importante as pessoas visitarem os museus de suas cidades, pois é um meio de se conhecer a própria história.

Já o que Thales Artur dos Santos, de 18 anos, mais gostou no museu foi a exposição de quadros e estátuas. Assim como Guilherme, ele acredita ser importante as pessoas visitarem museus e recomenda a visita ao Memorial do Imigrante. “É legal poder ver o passado do Brasil, já que os imigrantes que vieram para cá influenciaram muito a nossa cultura. O museu está em perfeito estado e não há como se decepcionar”.

O museu, neste semestre, mostra algumas exposições sobre a França, em homenagem ao ano da França no Brasil, e outra sobre os 180 anos de imigração alemã em São Paulo. Durante o mês de setembro ele exibiu retratos da família brasileira, tirados pela brasileira Fifi Tong, que pertencem à exposição “Origens”. Segundo a retratista, o objetivo da exposição foi provocar discussões sobre o valor da família e mostrar a influência da carga genética na construção do povo brasileiro.

Fifi Tong disse que se inspirou em recordações de sua família, descendente de chineses de Xangai. Iniciou seu trabalho fotografando apenas mulheres mas, após perceber a diversidade da população brasileira, passou a retratar outras famílias, especialmente aquelas mais antigas, com muitas gerações.

O Memorial do Imigrante funciona de terça a domingo, das 10 às 17h, inclusive feriados. Localiza-se na Visconde de Parnaíba, 1316, na Mooca. Possui também dois auditórios que podem ser usados para apresentação de palestras e aulas e um espaço chamado de “Sala das Bandeiras”, onde é possível encontrar várias delas, cedidas por consulados e associações, e informações sobre os países ali representados.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Dias & Riedweg inovam em exposição

A artista Tomie Ohtake

Assim como muitos outros, a japonesa naturalizada brasileira Tomie Ohtake, é uma nikkei que alcançou destaque em sua área de atuação. Ela veio para São Paulo, em 1936, mas só iniciou sua carreira aos quarenta anos de idade. Pintora, gravadora e escultora exibiu sua primeira exposição no Museu de Arte Moderna. Tomie Ohtake também recebeu o prêmio melhor pintor do ano, em 1974 e 1979, e, em 1983, o prêmio personalidade artística do ano da Associação Paulista de Críticos de Arte. Em 1995 recebeu o Prêmio Nacional de Artes Plásticas do Ministério da Cultura. Em 2000, foi lançado em São Paulo o Instituto Tomie Ohtake, idealizado e coordenado por Ricardo Ohtake e projetado por Ruy Ohtake.

Atualmente, o Instituto apresenta uma exposição de Dias & Riedweg, com curadoria de Agnaldo Farias, que expressa alteridade por meio de vídeoinstalações e fotografias em torno do conceito de paraíso. Logo no começo a atenção é focada para várias maletas abertas, dentro delas há um vídeo mostrando cada maleta sendo passada de mão em mão.

Em um ambiente o público se surpreende com dois vídeos. Um deles apresenta o funk na favela, com os moradores dançando, fazendo churrasco, brincando com uma boneca inflável e se divertindo. Cada cena é comparada com uma gravura de índios. Ao redor da sala há algumas gravuras representando fotografias do mesmo episódio do vídeo. Ao atravessar uma série de balanças, que forram o chão, os espectadores assistem ao outro vídeo que é dividido em duas partes. Em um deles um travesti lê a Constituição e o outro foca nos moradores da favela dançando funk.

O segundo ambiente se inicia com um vídeo que mostra duas pessoas se olhando, depois há uma sequência de vários mini vídeos, cada um em um cenário diferente com uma história particular. Ao andar alguns passos o público se depara com um telão envolto por um quadrado cheio de areia e algumas cadeiras. Ele projeta um filme que conta uma história de amor, que envolve três pessoas isoladas em uma ilha, com o cenário da praia. Ao fundo da sala é possível ver outro telão que mostra o mar. No mesmo ambiente também há algumas gravuras que possibilitam a movimentação das imagens conforme a posição do espectador.

A exposição surpreende pelo fato de promover o inesperado. Geralmente as pessoas vão às exposições esperando ver quadros e esculturas, raramente vídeos e fotografias são expostos no lugar destes. Essa substituição costuma focar mais a atenção do público, além de facilitar o entendimento do que os artistas querem transmitir. Nunca tinha ouvido falar nesses artistas, mas a idéia que tive deles foi a de inovação, o que não poderia ser mais propício em uma era de tecnologias que nós estamos vivendo. Portanto, vale a pena conferir!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Mulheres invadem as corridas

Competições no Jockey Club são também uma guerra dos sexos

As mulheres estão mostrando que não existem mais profissões só para homens e um exemplo disso são as joquetas, mulheres que disputam corridas de cavalo. Apesar de serem apenas cinco mulheres correndo atualmente no Jockey Clube de São Paulo, a participação delas está cada vez mais importante.


Jeane Alves é uma delas, que saiu de Acopiara, Ceará, e veio para São Paulo com o objetivo de realizar seu grande sonho: garantir o seu espaço no turfe mundial. Ela está morando em São Paulo há um ano e 10 meses e já conseguiu muitas vitórias em sua carreira, inclusive receber o prêmio de melhor joqueta do Jockey Club da Cidade Jardim.

Para quem não sabe como essa disputa funciona, Jeane explica que ocorrem em média dez páreos (corridas) a cada dia de competição e que em cada corrida ela corre com um cavalo diferente. Sobre a premiação, a joqueta conta que esta só existe até o quinto colocado.

Ao ser questionada sobre se há alguma competição especial entre homens e mulheres Jeane diz: “Os meninos têm preconceito com as meninas. Eles nos criticam porque podemos pesar dois quilos a menos de vantagem e eles queriam que fosse peso a peso”. Ela justifica esse benefício como sendo necessário: “Já que falam que a mulher é frágil, nós temos o direito de ter essa vantagem. Afinal, temos menos força”.

Para Jeane, deveria haver mais mulheres nas raias para uma disputa igualitária: “Às vezes competem 10 jóqueis e uma joqueta. Seria bem legal se houvesse mais mulher ou que fosse dividido meio a meio. Pelo menos seria mais justo”. A jovem joqueta atribui esse problema a discriminação da profissão: “Existe muita discriminação por ser um trabalho masculino. Elas (mulheres) se sentem frágeis de ficar num lugar onde só tem homem”.

Nascida e criada em uma fazenda, Jeane Alves convive com cavalos desde sua infância: “Quando criança mexia com cavalos e, conforme eu fui crescendo, comecei a participar da vaquejada (competição na qual dois vaqueiros a cavalo têm que fechar o boi e derrubá-lo)”.

A rotina de treinos é puxada, os jóqueis e as joquetas treinam das 6 às 10 horas da manhã e depois das 14h30min às 16h. Além disso, a alimentação também deve ser balanceada: “Temos que manter o peso. A gente come mais frutas, mais coisas lights, muitos legumes e verduras, carne com menos gorduras etc”.

Quando interrogada sobre os seus planos Jeane conta que pretende parar: “A gente precisa parar um dia. Precisa pensar no futuro, nos estudos, temos vontade de criar uma família. Não tem como conciliar a família, os estudos e a profissão. Além do mais, a mulher vai ficando mais pesada e mais velha, o que dificulta. Lá pelos 30 anos pretendo dar adeus aos cavalos”.

domingo, 4 de outubro de 2009

Oportunidades no Centro de SP


Placa humana resiste ao tempo e é boa opção para desempregado


O Instituto de Pesquisa Econômica Avançada, IPEA, revelou em uma pesquisa que o desemprego cresceu para os que têm mais anos de estudo. Os dados apresentados mostram que 56,1% dos desempregados no Brasil metropolitano tinham mais de 11 anos de educação.

Arion Jaquetti, 29 anos, é formado em administração de empresas e está procurando uma vaga há aproximadamente dois meses. "Já fui chamado para fazer entrevistas, mas a concorrência é muito grande. Continuo procurando, de todas as formas possíveis", afirma Arion. Ele está tentando conseguir um cargo relacionado com sua área de conhecimento e além das agências de emprego, está recorrendo aos anúncios feitos por placas humanas na Rua Barão de Itapetininga, próxima ao Teatro Municipal de São Paulo. "Algumas empresas que anunciam [nas placas] são verdadeiros lixos, mas tem que confiar né?", completa Jaquetti.

João Silva* é uma das pessoas que ficam expondo vagas de empregos. Plaqueiro há um ano, conseguiu esta vaga depois de percorrer as ruas do Centro e pedir ajuda aos que já exerciam o cargo. "Eu pego o currículo e depois entrego pra uma empresa. Vem muita gente, de todas as regiões da cidade e do país" afirmou o homem de 58 anos. Quando questionado se muitos realmente conseguiam emprego, João respondeu que "hoje mesmo tem uma mulher levando os documentos porque foi contratada".

A técnica em nutrição Sandra Marinco Naka, 38 anos, também está desempregada. Ela tem procurado uma colocação há quatro meses e está utilizando como recursos agências de empregos, o sindicato dos trabalhadores e os anúncios feitos por plaqueiros, mas afirmou que nada dá segurança. Sandra começou procurando cargos relacionados com sua formação, mas hoje expandiu sua busca para qualquer oferta. "A maioria das vagas são para telemarketing, mas eles só aceitam gente nova. Além disso, acontece muito encaixe, gente que foi recomendada consegue emprego mais facilmente", afirmou Naka.

Reginaldo Alves, 40 anos, concorda com Sandra. Ele está atualmente empregado, mas estava entregando o currículo de um amigo. Segundo Reginaldo, "é difícil conseguir qualquer vaga hoje, tudo depende muito do Q.I. – quem indicou".

As placas e faixas de empregos fazem parte da história da cidade, assim como o Centro onde ficam. Sobreviveram ao tempo e à internet, sendo em tempos de crise econômica uma chance maior de conseguir o nem sempre dos sonhos, mas necessitado emprego.

*A pedido do entrevistado, o nome foi alterado.

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